Capítulo 4

Dimitri me segurava pelo braço em meio a luz tremula da tocha em sua mão, rapidamente descemos pelos degraus de pedra até chegar ao que parecia ser um depósito, então ele me soltou e seguiu direto para outra porta que com outra chave ele a abriu, voltou e me puxou novamente e recomeçamos a andar, dessa vez por um longo corredor cavernoso e ainda mais escuro, eu podia ouvir os insetos e os ratos passando perto de nós, e se não fosse o fato de estar sendo raptada, supostamente para o restante de todos eu estaria fugindo para casar, eu poderia me importar com os ratos correndo no escuro.

Eu tentei falar com ele, tentei mesmo, obrigar minha boca a se abrir e protestar contra aquilo, mas meu corpo não me obedecia, eu era apenas uma observadora em meu próprio corpo, e isso era aterrorizante.

O pânico de toda aquela situação começando a se instalar em meu coração, meu coração batendo acelerado, minhas pernas tremulas... eu queria que meu corpo reagisse e lutasse com ele, presumi que seria melhor morrer aqui lutando pela minha honra do que ser esposa dele.

Infelizmente meu corpo não compartilhava esse sentimento, e continuou a segui-lo sem oferecer nenhuma resistência.

Passados alguns minutos chegamos ao que parecia ser o fim do corredor, ele me soltou e iluminou o teto procurando algo, a luz fraca da tocha em suas mãos revelou uma abertura a cima de nós, uma escotilha que ele abriu com uma de suas chaves, ele parecia carregar várias delas, quando ele abriu a luz da lua iluminou seus olhos azuis, ele se virou de volta para mim e me segurou pela cintura, em movimentos rápidos me levantou em direção a saída, estava me tirando primeiro que ele... isso só me deu uma triste certeza, seja o que for que ele tenha feito em mim quando me espetou com sua unha, ele tinha certeza que eu não poderia resistir, ele tinha certeza de seu poder.

Quando eu me vi do lado de fora olhei em volta, estava na floresta, e ao longe eu podia ver o palácio.

Ele veio a superfície mais rápido do que eu imaginei, eu olhei para ele tentando entender suas motivações, se sua intenção era se casar comigo, bastava ele matar um único homem, e ele estava em completa vantagem com essa espécie de poder sobre a vontade das pessoas, eu não o via perder para Chase, então porquê arriscar tudo me sequestrando? Mesmo que acreditassem que fui por vontade própria, ele ainda teria afrontado um rei! Por que arriscar tudo isso tendo esse poder em suas mãos?

Todas essas perguntas fervilhavam em minha mente enquanto eu fazia um esforço descomunal para verbaliza-las.

Ele franziu o cenho e fechou os olhos, massageou as têmporas com expressão cansada e murmurou:

— Eu sei que você tem perguntas, mas vai ter que esperar até chegarmos ao porto de Rochester.

Então ele caminhou em minha direção e me puxou, me guiando para dentro da floresta. 

Caminhamos por toda a noite pela trilha, ele parecia querer evitar as estradas, e Rochester não era a vila mais próxima, Dalton era, mas ele não parou em Dalton, na floresta ele havia deixado uma bolsa com suprimentos, que comemos durante a viagem, Dimitri sempre pedia para que eu parasse de tentar formular palavras que tinha que esperar ate Rochester, mas eu continuava a tentar.

Em um certo momento quando passamos perto de Duvov, um dia de Rochester ele parecia muito cansado de usar sua energia para me impedir de falar e fez uma proposta.

— Se eu deixar que você faça uma pergunta você para de resistir e espera até Rochester?

Eu arregalei os olhos com sua proposta, rapidamente balancei a cabeça pensando nas milhões de perguntas que tinha que fazer, e tentei decidir a mais urgente.

Quando eu concordei com sua condição ele respirou fundo e dentro de mim eu senti como se uma porta estivesse sendo destrancada.

— Para onde vamos depois de Rochester? — consegui perguntar.

— Para a ilha do Corvo.

Um milhão de perguntas surgiu em minha mente e eu fui incapaz de pronúncia-las em voz alta, porque aquela porta foi trancada novamente.

Bufei me sentindo frustrada, aquela resposta só havia me trazido mais perguntas.

A Ilha do Corvo era uma forte aliada de Shivia, situada ao nosso lado separada por algumas milhas náuticas de nós, seu governante era John Chase, mas ele não se chamava de rei, apenas Comandante, e além de comandar a ilha ainda possuía terras em Shivia, a ilha do corvo produzia muitos materiais de madeira, incluindo barcos dos quais eles comercializavam para outras nações, exceto para os inimigos de Shivia, os dois países eram aliados a séculos, também eram conhecidos por suas grandes forjas das quais produziam as melhores armas.

A espada do meu pai veio da Ilha do Corvo.

Mas, porque diabos ele estava me levando para a Ilha onde o governante era seu adversário pela minha mão?

Continuamos por mais um dia, chegamos ao porto de Rochester de madrugada, sem suprimentos ou água, minhas roupas estavam um fiapo, sujas e rasgadas de tanto caminhar entre a floresta, meus pés estavam inchados e eu estava faminta, caminhamos pela cidade do porto que estava agora silenciosa, seus habitantes recolhidos, chegamos até uma estalagem que estava aberta.

Quando entramos Dimitri passou o braço ao redor da minha cintura e sorriu para a atendente.

Ele contou uma história de como éramos recém-casados e precisávamos de um quarto para passar a noite e uma refeição, e banho quente.

A senhora que era baixa e gordinha sorriu para ele, e quando ele beijou sua mão todo galante ela corou ele também perguntou quando partia um barco para a Ilha do Corvo e ela informou que na primeira luz o barco Nay partiria, depois disso fomos levados para o quarto após jantar no salão.

Quando chegamos no quarto ela a senhora que se identificou com Cibele, nos deixou, o quarto era simples, mas bastante arrumado, possuía um armário, uma janela grande que tinha a vista do porto, uma banheira com água quente, e uma cama.

Dimitri fechou a porta, e se virou para mim.

— Vou deixar que você fale livremente agora, mas se você atrair a atenção daquela senhora, juro a você, vou cortar a garganta dela bem aqui na sua frente.

Eu engoli em seco sua ameaça, eu podia ver em seus olhos azuis frios que ele estava dizendo a verdade. Ele faria tal coisa.

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